Infelizmente, a maioria das produções científicas são fomentadas por grandes corporações do mundo capitalista, obviamente realizadas para continuar alimentando-o, por meio da descoberta, ou invenção, de doenças crônicas para garantir total dependência e fidelização dos consumidores. Nos impõem, científica e ditatorialmente, que devemos usar obsessiva e compulsivamente, bloqueador solar para depois, por conta disso, vitamina D, remédios contra o colesterol e, por conta disso, antidepressivos e analgésicos. Anti-hipertensivos e, consequentemente, remédios para disfunção erétil.  Sem falar da mania da metformina e dos hormônios tiroidianos, para perda de peso ou suplementos para ganho de massa. Porém, a pior e mais perversa área da indústria médica é a psicofarmacológica, prescrevendo remédios químicos para todos os estados de humor que fujam da normose adaptativa desta atual sociedade escravocrata do consumo.

A economia agradece os tomadores de Prozac que dependem dele há mais de 30 anos e, por isso mesmo, nunca foram para o “fundo do poço”, mas também não saíram dele. A Psiquiatria quimiátrica só serve para pacificar e acomodar, normoticamente, a pessoa neste contexto de consumo, medo e falta de sentido. Acho que ainda iludida com a descoberta da fluoxetina, droga que prometia a reinvenção da felicidade, desde a década de 80, e todos os antidepressivos decorrentes dela. É obvio que, em casos específicos, a medicação psiquiátrica pode ser bem-vinda, mas preferencialmente de forma pontual, sempre visando a independência química! Mas o que acontece atualmente é um verdadeiro abuso na prescrição de estabilizantes de humor, antidepressivos, ansiolíticos, indutores do sono, antipsicóticos, entre outros psicotrópicos, produzindo dependência química e estereótipos. Isso porque a psiquiatria é uma “ciência” totalmente empírica, baseada exclusivamente na subjetividade da relação do médico com o coitado do paciente, ou seu entorno familiar, em busca de diagnósticos, rótulos e prognósticos medicamentosos, obviamente sem nenhum amparo de exames laboratoriais, bioquímicos, tomográficos, entre outros. Porque esse apoio, que as demais áreas médicas podem ter, não existe na psiquiatria que, na realidade, lida apenas com os comportamentos humanos, que foram condicionados, influenciados por traumas, famílias disfuncionais ou hábitos, advindos nos mais variados tipos de reforços, incluindo os químicos endógenos ou exógenos.

Desta relação subjetiva decide-se qual remédio prescrever e, empiricamente, vai acontecendo a avaliação para averiguar se aconteceu melhora. O problema é sabermos, em primeiro lugar, o que é melhora? Depois questionar para quem é essa melhora e por quê? Porque nem sempre quem se beneficiou foi o paciente e, na maioria das vezes, ninguém nem quer saber das instâncias anímicas espirituais e o sentido de vida daquela pessoa.

Tudo isso serve para impedir a vivência dos extremos. Até porque quando temos a coragem de chegar nela, de fato, descobrimos o lado oposto! Só assim podemos ficar integrais. Senão passamos a vida inteira com medo e sem realizar nada. Carl Gustav Jung viveu os extremos.  Literalizou para poder desliteralizar, por meio dos símbolos e das metáforas. Saiu de cima do muro e se entregou para vida, escutando a morte. Ele confiou na sua intuição e vivências artísticas em busca de dar vazão e expressão para sua alma. Por isso pode afirmar, aos 84 anos, que sua vida foi a história de um inconsciente que se realizou.

Esse monte de quimiatria impede a experiência verdadeira e, consequentemente, a transformação.  Serotonina para os depressivos e dopamina para os esquizofrênicos, não contribuiu para a melhora da humanidade. Muito ao contrário, nos países com maior uso desses medicamentos cresceu vertiginosamente a quantidade de pessoas declaradas inválidas por diagnóstico psiquiátrico, de acordo com a pesquisa de Robert Whitaker, jornalista investigativo que vem denunciando que a indústria médica: “está criando mercado para seus medicamentos e também está criando pacientes, com excelente êxito comercial”. Só nos USA são mais de 5 milhões de inválidos sentenciados com diagnósticos psiquiátricos, sem falarmos do crescente número de moradores de rua lá e no mundo todo. Porque os pobres desencaixados deste sistema alienante, com baixa estima, acabam ficando fora do contexto ou no contexto psiquiátrico.

Encarar Mefisto, descer aos infernos, matar, guerrear, revolucionar é o chamado do herói. Se Mozart, Jung, Nietzsche, Kafka, Hegel, Van Gogh, Leonardo da Vinci, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Manuel Bandeira e uma infinidade de gênios, santos ou sábios estivessem vivos na atualidade, certamente estariam medicados vivendo uma vida medíocre. Mas, como o Self se encarrega de produzir as enantiodromias necessárias para atingirmos o caminho do meio, não podemos perder a fé, continuando no caminho da autoconsciência para podermos servir a alma. E neste caso, as expressões artísticas, a criatividade e até os sintomas são instrumentos do Self para arrebatar o ego alienado.

Na realidade o Brasil e o mundo estão precisando, com urgência, de uma reforma psiquiátrica e das políticas públicas de saúde, com uso adequado de psicofármacos, para manter a pessoa e a família protegidos durante o período de crise aguda ou nos casos muito graves. Atualmente, em nenhum lugar, existe acolhimento para a alma. Os mais avançados e abastados países conseguem dar cuidados básicos de abrigo, higiene e nutrição, mas não sabem ou podem incluir aspectos existenciais e espirituais, para despertar sentido e significado à vida.

A pressão capitalista consumista estimula a conquista imediata da alegria, prazer e felicidade! Se o indivíduo não vivencia continuamente esse estado eufórico ele é sentenciado a tomar remédios. Ideologia e entusiasmo estão em desuso e uma abordagem terapêutica que inclua essa instancia está cada vez menos disponível. Neste momento que entra a Arteterapia e as Expressões Criativas, método advindo da Psicologia Profunda de Carl Gustav Jung, que possibilita, por meio de caminhos menos racionais e verbais, o reconhecimento das emoções causadoras do mal-estar, sua ressignificação e até a superação das mesmas. Porém, para isso, as medicações psiquiátricas não podem estar obliterando o ego criador e, neste caso, o médico deve tentar diminui-las, dando espaço terapêutico, visando até a total suspensão da mesma, apesar da crença de muitos psiquiatras de que para a maioria das psicopatologias isso é impossível.

A Arteterapia tem como objetivo o ser integral e é de extrema valia para as pessoas que têm dificuldade de expressarem seus sentimentos. Aliás, os manuais de psiquiatria até criaram mais um rótulo psicopatológico para isso, a alextimia. Obviamente isso é mais um absurdo para justificar medicações. Porque criar um vínculo de acolhimento, ter paciência, empatia e amorosidade até que o paciente tenha confiança suficiente para começar a produzir, expressando suas emoções, é muito difícil e demanda tempo.

*WALDEMAR MAGALDI FILHO, Psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática, Arteterapia e Homeopatia. Mestre e Doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: Dinheiro, saúde e sagrado – Ed. Eleva Cultural. Coordenador e professor dos cursos de especialização lato-sensu em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Arteterapia e Expressões Criativas, oferecidos pelo IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa – www.ijep.com.br – e-mail: [email protected]

15 entries
0 comments
COMPARTILHAR