Nosso corpo é símbolo à partir do momento em que se torna veículo de expressão de algo desconhecido. Para Jung o símbolo é a representação do novo. Sendo assim, nossos gestos, movimentos, respiração, transferências de peso e a mais sútil expressão, denotam algo novo que é projetado para nossa pele, de forma espontânea a todo momento.
A fala, a musicalidade e a expressão corporal, que chama de dança espontânea, são naturais também. Com a racionalização, polarização e o excesso de pressão social, perdemos o contato com o divino e com o nosso corpo de forma sagrada.
Permanece o contato corporal estético aprisionado à imposição do meio. Algo que importamos, compramos e vestimos.
Nos encaixamos e amputamos muitas vezes parte de nós para nos “engessarmos” aos conceitos sociais e da mídia atual. Resistimos, assim, ao processo de mergulho e integração de nossos complexos que nos dominam.
Segundo Jung, “todo homem tem uma sombra, e quanto menos ela se incorporar à sua vida consciente, mais escura e dura ela será”. Assim sendo, muitas vezes ficamos identificados com aspectos da persona individual e/ ou social, rejeitando grande parte de nosso potencial.
A dança e a música (não consigo separá-las) tem o poder de alterar humores, afetar nossos mais profundos afetos e resgatar um estado lúdico que muitas vezes esquecemos. Através da música e pelo estímulo de certos movimentos, somos capazes de adentrar camadas do inconsciente e acessar complexos que, de forma autônoma se manifestam em parte do corpo.
Como escreve Jean Shinada Bolen, e é fato, “o corpo é a possibilidade que temos de contato com nosso inconsciente e com o mundo exterior. Não podemos nega-lo em detrimento da espiritualidade”. Temos sim que entender que é nossa morada.
Entendo que o corpo é sagrado, e é o abrigo da alma. Isso se reflete em nossa pele, tão sensível aos toques, que mesmo não sendo “tocada” reage a cada palavra, som e imagem. Tudo que negamos ou supervalorizamos ganha energia.
Guardamos no corpo tanto as lembranças os desejos não realizados quanto os chamados não atendidos. O corpo é a revelação da linguagem da alma simbolizando o “papel” que desenha a verdade do coração.
*Ana Paula Zaidan Maluf
CRP: 06/38422-5
Professora de Arteterapia do I.J.E.P